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Fernando Hipólito: “Acredito numa arquitetura moderna, mas regionalista”.

Arquiteto Fernando Hipólito
Por JoÁ£o GALVÁƑO hÁ¡ 7 anos
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Entrevistas Cascais

Equilibram-se enormes caixas de fósforos ou muda-se só a porta da casita rústica? Fernando Hipólito mostra o fio da navalha da arquitetura em Cascais.

 

Desde que me lembro, o Fernando e a Elsa são os arquitetos em Cascais. A Elsa (desculpa, Elsa) fica para um próximo artigo (que arquiteta é bem diferente de arquiteto, como em tudo). Desta vez falámos só com metade da dupla, o arquiteto Fernando Hipólito, também Professor de Arquitetura e Artes na Lusíada desde 1987 (começou a dar aulas com 23 anos), e um nome a ter sempre em conta quando se escreve sobre arquitetura, interiores e decoração. 

 

Em 2000 não havia nada em Portugal, sítio algum onde se vissem boas peças e propostas para interior, havia 4, 5 lojas entre Cascais e a Baixa. Fazer uma boa revista mensal ao tema era aqui quase tão difícil como fazê-lo, tipo, na Albânia.

 

Foi nessa altura que conheci o Fernando e a Elsa, num seu espaço chamado Alfarroba, em Cascais, onde se viam 5 ou 6 peças, não mais, mas todas impecáveis. Nessa altura, quando se queria fazer uma boa revista de decoração, tinha que se ir à Alfarroba buscar coisas, mesmo que isso implicasse 1 jornalista + 1 motorista + viatura + gasóleo. E nessa altura os publishers já eram bem forretas.

 

 

Remodelação e decoração de apartamento na Quinta da Marinha

 

Fernando Hipólito vive e trabalha em Cascais, um dos sítios mais pin pointed pela imprensa estrangeira (e pelos expats aí residentes), como destino favorito de lazer ou de residência, ao nível mundial. 

Como sempre e desde sempre, quando um sítio vira uma location, a intervenção consciente, quer da autarquia quer do arquiteto, pode ser tão mais valia como facilmente ser o fim da location. Fernando Hipólito é de lá e explica.

À esquerda o Restaurante Barbatana, no Shopping Amoreiras e à direita a remodelação e ampliação de um apartamento no Areeiro, Lisboa

 

Como define a sua linha criativa?

Na arquitetura, pretendemos sempre respeitar o contexto, seja ele a envolvente, a topografia ou as pré-existências construídas, assim como a ambição dos clientes. Não impomos um estilo, mas antes respondemos a cada problema com a especificidade de resposta que ele exige.

Em projetos concebidos de origem, acreditamos numa arquitetura moderna, mas regionalista. Que entenda as qualidades do espaço em função da cultura específica de cada sítio, de cada local.

Em decoração e design de interiores, somos bastante ecléticos. Gostamos de misturar peças que no final se apresentem como um conjunto único e equilibrado. 

 

Como encara esta decisão oficial de deixar engenheiros assinar arquiteturas? 

Logo à partida, considero absolutamente ridículo. E é o resultado claro de 4 situações: a falta de presença social da profissão de arquiteto; a inoperância da Ordem Profissional; a força da classe dos engenheiros; a falta de cultura de um País.

A partir daqui compete a cada arquiteto desenvolver certo número de skills que lhe permita, dia após dia, demonstrar que o trabalho que desenvolve e o fornecimento de serviço que presta à sociedade é necessário.  

 

Sentiu no seu trabalho o sucesso de Portugal junto de expats?

Sim, claramente. Foi uma lufada de ar fresco... 

 

 

Remodelação de penthouse na Gandarinha, Cascais

 

Consegue dividir  numa percentagem os clientes portugueses versus clientes estrangeiros?

Neste momento, estamos com 75% estrangeiros e 25% portugueses.

 

Portugueses e estrangeiros têm o mesmo gosto/pedidos quando o contactam?

Depende dos estrangeiros... No nosso caso, as diferenças maiores são entre os europeus e os de fora da europa. Na Europa, culturalmente, somos todos mais semelhantes entre nós.

 

Quando desenha tem em conta o desenho da cidade que rodeia a obra?

O contexto é fundamental.

 

Qual a coisa mais insólita que lhe pediram para incluir ou fazer num espaço?

Um carro dentro de uma sala... 

 

Como é ser casado com alguém igualmente valoroso na mesma profissão?

Tem dias e depende dos casos. Discutimos bastante, no bom sentido, tendo sempre o objectivo comum de surpreender o cliente mas, respeitando sempre as suas ideias e as suas ambições.

 

 

Fernando Hipólito em Lisboa

 

O melhor passeio em Lisboa?

Agora descobri o Poço dos Negros formato atual, que está como eu gosto: trendy mas ainda desorganizado e com restos da Lisboa mais "bas fond". Tudo é menos "certinho" e "arrumado", genuíno e nada pretensioso. Detesto a Avenida da Liberdade.

 

Gosto de Lisboa porque...

... apesar de ter péssimos exemplos de arquitetura, a sua estrutura de base consegue sobreviver e anular algumas atrocidades que se fizeram e ainda fazem... Adoro a arquitetura pombalina e a modernista.

 

Em Lisboa não passo sem...

... visitar algumas lojas vintage. 

 

Só trocaria Lisboa por...

... Évora ou Tavira. 

 

O melhor sítio para jantar em Lisboa é...

... e continua a ser a Bica do Sapato. 

 

E para continuar noite adentro...

... o Lux, sempre!

 

A melhor vista de Lisboa é...

... do miradouro de São Pedro de Alcântara. 

 

Gosto de Lisboa mas... 

... prefiro Cascais.

 

 

Fernando Hipólito à queima-roupa 

 

Se não fosse arquiteto seria o quê?

Escritor.

 

Quem é que convidaria para um jantar ideal? 

Marquês de Pombal, Duarte Pacheco, Le Corbusier, António Damásio, Picasso, Julianne Moore, Aristóteles e Steve McQueen.

 

O que tem sempre que haver num espaço seu?

Cerâmicas vintage, alemãs de preferência e flores .

 

E o que nunca pode lá entrar?

Gente mal formada.

 

O que o faz rir?

Os meus cães.

 

O que é que o aborrece muito?

Pessoas chatas e trânsito.

 

Sempre que pode, faz o quê?

Vou ver o mar.

 

Se mandasse no mundo o que decretaria já?

Só carros eléctricos.  

 

Mais info em www.efhipolito.com