Tempus Fugit, a Morte fala no Museu do Dinheiro
O Museu do Dinheiro mostra já a partir de amanhã o resultado da escavação aquando da sua reconversão
A Igreja de São Julião, agora Museu do Dinheiro contiguo à sede do Banco de Portugal, sofreu para este novo destino uma profunda obra com acompanhamento arqueológico. Esta gerou mais de 130 mil peças de acervo, não só ossos, mas tudo aquilo com que os crentes se faziam acompanhar nesta última viagem, e muita documentação paralela. O resultado desta escavação é o cerne da exposição “Tempus Fugit: Vida, morte e memória na Igreja de S. Julião” que pode ser vista já a partir de dia 10, in situ.
Até meados do século XIX era prática comum sepultar os defuntos dentro das igrejas, terra consagrada, de modo a que a alma estivesse assim mais perto das portas do céu. Em 1844 um decreto sanitário passou a impedir estes enterros, muitas vezes provocando levantamentos populares que se lhe opunham furiosamente.
Quem eram estas pessoas? Como viveram? De que morreram e como? São algumas perguntas que antropólogos e arqueólogos fazem a estes cerca de 300 ocorrências funerárias e que têm a resposta possível nesta exposição. Mas a escavação arqueológica resultou num número muito mais vasto: foram postos a descoberto 30 ossários e trezentas e dez inumações, num total de, no mínimo, 528 indivíduos.
A exposição está dividida em 3 fases. A Necrópole, no pavimento da antiga nave da igreja, acolhe a peça central, uma representação da planta dos enterramentos, esquematizada e à escala real, organizada a partir dos desenhos arqueológicos da obra realizada em 2010 e 2011. No altar-mor podem ser vistos os livros de assentos de óbito paroquiais, complementando e alargando a interpretação do desenho inscrito no pavimento. Por exemplo, um dos livros aberto na página de dezembro de 1810 evidencia um mês de grande mortandade provocada certamente por um surto de tifo, e que pode ter contribuído para alguns enterramentos apressados, em posições menos canónicas.
A segunda fase, Crença e Memória, traduz o espólio com que a população era sepultada, como bem demonstra o elevado número de medalhas de santos, especialmente de S. Bento e de Santo Anastácio, que exibem uma oração de esconjuro, sinal de que para estes paroquianos Satanás era ainda uma ameaça a ter em conta.
Por fim, na terceira fase, Anatomia e Patologia, são abordadas as questões científicas e as diferentes etapas do estudo dos ossos, ilustradas por fotografias dos trabalhos arqueológicos e de algumas fotos tiradas em laboratório. Este estudo permite conhecer, mais do que apenas do que morreram aquelas pessoas, de que doenças sofriam, e de que forma se traduziam estas em estados graves de sofrimento e desconforto, por vezes crónicos.
Nos sábados 25 de novembro, 9 de dezembro e 27 de janeiro há visita guiada e comentada pelo arqueólogo Artur Rocha, e no sábado 18 de novembro pode assistir ao seminário “A voz da morte no século XIX”, com Artur Rocha, Fátima Almeida, João Neto e Teresa Rodrigues. Ambas as ações são gratuitas – tal como a visita à exposição - mas tem que marcar o seu lugar com antecedência.
Depois de ver a mostra vai sair do Museu do Dinheiro para o sol e para o ar fresco de Lisboa com um complemento à máxima: Tempus Fugit, Carpe Diem, o tempo voa, aproveita a vida.
Horários e preços em www.museudodinheiro.pt
Artigos Relacionados
- Populares Recentes