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Obra de Mariana Sousa em exposição no Radio Palace

Mariana Sousa
Por Inês ALMEIDA hÁ¡ 8 anos

“Pólos” vai estar no Radio Palace até 30 de Maio

 

Qual é a ideia subjacente à peça “´Pólos”?

 

A minha peça começou por ser pensada para refletir as contradições. O que eu pensei para conseguir refletir isso, foi usar o positivo e o negativo. Basicamente com o gesso e a partir de um referente, que foi uma concha barroca, eu fiz a modelação e fiz o negativo e, através do negativo, tirei o positivo. Conseguindo assim a complementação do positivo e do negativo como sendo uma peça só. Uma  não conseguiria ter sido feita sem a outra.

 

 

Quanto tempo demorou a fazer esta peça?

 

Esta peça demorou quase três meses. Basicamente além da modelação a barro, tive de passar moldes em gesso. A partir dos moldes em gesso, fiz o positivo em gesso. E depois fiz as meias esferas em gesso. Nada é trabalhado com máquinas, é tudo feito à mão. Não foi utilizada nenhuma máquina.

 

 

Para fazer uma circunferência tão perfeita tem de se ter uma grande noção de perspetiva, correto?

 

Sim, tem. Eu usei, como é óbvio, ajuda para conseguir fazer a forma esférica mais perfeita. Há sempre truques que conseguimos usar. Mas isto é basicamente trabalho de lixar e depois ir acrescentando ou tirando material até encontrar a forma perfeita. É por isso que é um trabalho que demora tanto tempo, vai-se fazendo aos poucos.

 

 

Ainda se encontra a estudar?

 

Ainda estou a estudar, sim. De momento encontro-me a frequentar o Mestrado de Museologia e Museografia na Faculdade de Belas Artes. Mas, em paralelo, encontro-me sempre a trabalhar em escultura. Continuo e por mim hei-de continuar sempre a estudar.

 

 

Já expôs a sua obra em muitos sítios?

 

Não, nunca fiz muitas exposições, cá em Portugal também é complicado. Mas esta peça já esteve exposta noutro palácio, no Palácio do Marquês de Pombal, com outras peças minhas. Também já expus no G.A.B.-A da Faculdade de Belas Artes ao longo dos anos da licenciatura.

 

 

Qual é estilo das suas peças?

 

O meu material preferido é o gesso e eu trabalho sempre mais com formas orgânicas, mas também já tive trabalhos feitos em madeira, mais geométricos. Também já trabalhei com osso animal, até. Também já trabalhei tapeçaria, tecelagem, ferro…

 

Mas prefiro o gesso. Quando entrei na faculdade decidi ter um laboratório de gesso, já não sei por que motivo. E quando entrei, de facto adorei o material. Primeiro porque remete muito à arte clássica. A maior parte das esculturas clássicas foram sempre feitas em gesso para depois serem transladadas ou para pedra ou para bronze ou o que quer que seja. É um material que é muito versátil e tem este branco perfeito, extremamente puro, que é algo que eu adoro. Há quem pinte o gesso, mas eu acho que é isso é assassinar o material. Pois o material só por si diz bastante e, lá está, é bastante flexível. É duro, mas dá para ser trabalhado com diversos materiais.

 

 

O que gostava que as pessoas sentissem quando virem a sua peça?

 

Principalmente um certo romantismo e também identificarem-se com o lado positivo e negativo. Por isso eu queria que as pessoas olhassem e percebessem que, para construírem um bom lado, é preciso terem um péssimo lado. E sabermos que precisamos dos dois lados da balança, um certo equilíbrio.

 

 

Qual é o seu lado favorito?

 

É o positivo. Mas este veio todo do negativo.

 

 

Esta vocação para a arte, acompanha-a desde a infância?

 

Sim, sim. Desde pequena que sempre gostei de pôr a “mão na massa” e a minha mãe sempre me comprou todos os materiais possíveis e imaginários. Passava a vida a fazer isso, mas com tudo. Desde plasticina, a barro, ao corte e costura, colagens… Para mim sempre foi inquestionável seguir o caminho das artes. Estudei na Escola António Arroio e depois na Faculdade de Belas Artes. Nunca me passou pela cabeça estar fora do mundo da arte porque, para mim, a arte é o mais puro que o ser humano pode fazer. Ou o mais belo, no meio de tanta coisa horrível. O objetivo é sempre imortalizar uma ideia ou o nosso ser ou alguns o nome. Mas principalmente transmitir uma ideia que toque a todos, é crucial. E toda a gente sentir, olhando, que se identifica.

 

 

Preocupa-a que as pessoas não percebam a sua intenção com determinada obra ou considera que cada pessoa deve interpretar a obra à sua maneira?

 

Penso que cada pessoa deve interpretar à sua maneira. Se a arte te toca de alguma forma, seja negativa ou positiva, já fez alguma coisa. E se já te tocou, já valeu por si, já falou por si. A arte, principalmente hoje em dia, fala por si. Não precisa de palavras posteriores. Eu gosto que as pessoas interpretem as minhas obras de forma totalmente livre. Até acho graça que as pessoas venham ter comigo e me digam que viram algo completamente diferente. Eu acho que essa é a grande beleza da arte, toda a gente sente alguma coisa, de maneiras completamente diferentes.

 

 

 

 

Quem é a Mariana Sousa?

 

Mariana de Figueiredo Sousa nascida em Lisboa e criada na Nazaré, onde passou grande parte da sua infância. Finalizou o ensino secundário pela Escola Secundária Artística António Arroio e licenciou-se em Escultura na Faculdade de Belas Artes de Lisboa no ano de 2016. De momento frequenta o mestrado de Museologia e Museografia em quanto prossegue a carreira artística como Escultora.